Após meses de pressões públicas e pedidos da defesa, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), finalmente autorizou o acesso integral de Jair Bolsonaro (PL) às provas produzidas pela Polícia Federal (PF) no inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022. A medida, anunciada na quarta-feira (30), também se estende ao general Augusto Heleno e ao tenente-coronel Mauro Cid, igualmente alvos do processo.
A liberação, embora tardia, representa um avanço na garantia do contraditório e do devido processo legal — fundamentos que, até então, vinham sendo relativizados por decisões monocráticas que afastaram, por meses, a defesa de elementos essenciais dos autos. Trata-se de uma correção esperada por juristas e constitucionalistas que, desde o início do processo, apontam desequilíbrios na condução do caso.
Desde que a narrativa da “tentativa de golpe” foi abraçada por setores da imprensa e por adversários políticos de Bolsonaro, o processo judicial passou a correr sob intensa pressão midiática. Não houve, até o momento, provas claras de que o ex-presidente tivesse ordenado ou liderado qualquer ação armada, tampouco que tenha cometido crime consumado. O que existe são rascunhos de decretos, discussões políticas em bastidores e suposições — elementos frágeis para a gravidade das acusações.
A defesa do ex-presidente tem insistido que o inquérito está sendo utilizado como ferramenta de perseguição política, algo que ganha força quando se observa a velocidade seletiva com que a Justiça tem agido contra conservadores, ao passo que figuras de esquerda, mesmo envolvidas em escândalos anteriores — como mensalão, petrolão ou invasões de propriedades —, seguem livres e atuantes na política.
A atuação do ministro Alexandre de Moraes tem sido alvo de críticas por juristas de diferentes vertentes. Acumulando poderes investigativos, acusatórios e judicantes, Moraes já foi comparado por especialistas a um "xerife institucional", centralizando decisões que, em democracias maduras, seriam compartilhadas entre diferentes instâncias. Neste caso, ele autorizou buscas, determinou prisões, quebrou sigilos e agora julga a manutenção do processo, o que levanta dúvidas sobre a imparcialidade da condução.
Além disso, advogados apontam que o bloqueio inicial ao acesso das defesas às provas compromete a integridade do processo, podendo, futuramente, ser questionado em tribunais internacionais ou em ações de revisão criminal, caso a denúncia avance.
Ao permitir agora o acesso às provas, o STF se vê diante do desafio de garantir um julgamento técnico, sem ceder à opinião pública militante. A decisão vem num momento em que o governo Lula enfrenta queda de aprovação, e parte do debate político tenta se ancorar no passado — especialmente em um inimigo comum, Bolsonaro — para desviar o foco da atual gestão.
A pressão internacional também deve ser considerada: organizações de direitos humanos, parlamentares estrangeiros e veículos da imprensa internacional têm observado com cautela os desdobramentos jurídicos no Brasil. A perseguição política travestida de processo penal é um risco real, e a correção de rumos pelo STF pode ser uma tentativa de resgatar a imagem institucional.
A liberação das provas à defesa de Jair Bolsonaro é, antes de tudo, uma vitória do Estado de Direito. Mais do que beneficiar um ex-presidente, a decisão protege o cidadão comum contra o abuso do poder judiciário. Em tempos em que o discurso sobre democracia é usado como escudo para excessos institucionais, é fundamental lembrar que justiça de um lado só não é justiça — é militância togada.
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