PREFEITO JULIANO FERRO CRITICA PEDIDOS DE IMPEACHMENT DE LULA EM POSTAGEM NO INSTAGRAM E ENFRENTA ENXURRADA DE REPROVAÇÕES

O prefeito de Ivinhema, Mato Grosso do Sul, Juliano Ferro (PSDB), tornou-se o centro de uma polêmica após publicar em sua conta oficial do Instagram uma declaração contrária aos pedidos de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em um vídeo carregado de declarações contundentes, ele atraiu forte repercussão entre apoiadores e críticos.

Na gravação, disponível neste link, Juliano Ferro afirma que "o impeachment de Lula, além de gerar instabilidade econômica ao país, poderia também afetar relações internacionais". Tal comentário inflamou os seguidores do prefeito, gerando um intenso debate virtual, com críticas principalmente da ala mais conservadora de sua base eleitoral, amplamente favorável ao impeachment de Lula.

A publicação do prefeito ocorre em um momento delicado da política nacional, com a oposição ao presidente Lula redobrando sua mobilização na tentativa de aprovar um processo de impeachment. A insatisfação com o governo federal tem sido alimentada principalmente por alegações de má gestão, escândalos envolvendo programas como o “Pé de Meia” (questionado pelo TCU), decisões consideradas controversas e retrocessos econômicos, usados como justificativas para o processo.

No vídeo, Juliano Ferro critica o pedido de impeachment como uma estratégia de revanchismo político. Ele argumenta que o presidente Lula, apesar dos desafios e críticas, foi eleito em um processo democrático legítimo, e que é necessário respeitar essa decisão. Ele ainda diz: "Tando bom ou tando ruim, foi a população que escolheu, e se estiver ruim, a população que tem que pagar o preço". A postura diverge das expectativas de parte considerável do eleitorado que o elegeu e que agora se mostra favorável à retirada do chefe do Executivo.

Veja o vídeo

Nos comentários da publicação, muitos internautas reagiram negativamente. “andrade_1029 - Admiro muito o prefeito principalmente pelo apoio ao RS, mas discordo da sua opinião, a eleição é só no final de 26! Se está ruim tem que tirar é logo!”, escreveu um seguidor. Outros reclamaram: “dinair_inacio - Não a questão de quem perdeu ou quem ganhou o problema é a população que não está conseguindo comprar o básico do dia a dia”, comentou uma usuária. Ainda assim, o prefeito também recebeu apoio de seguidores que elogiaram sua “coragem” em tocar no tema: “Parabéns pela sinceridade. Enquanto outros se escondem, você fala o que pensa”.

A figura de Juliano Ferro é conhecida por seu estilo direto e pouco convencional. Prefeito reeleito, ele conquistou popularidade por sua presença ativa nas redes sociais e por seu contato próximo com a população de Ivinhema. No entanto, essa postura autêntica frequentemente suscita controvérsias, sobretudo em tempos de polarização política.

A recente declaração desagradou principalmente eleitores de centro-direita e bolsonaristas alinhados ao pedido de destituição de Lula. Apesar de ser filiado ao PSDB, partido de oposição ao atual governo federal, Ferro parece ter adotado uma postura mais conciliadora que, embora respeite o resultado eleitoral, contradiz parte do eleitorado oposicionista.

Esse episódio reflete um típico desgaste enfrentado por políticos que tentam equilibrar discursos entre o apoio à democracia, à governabilidade e às demandas de suas bases eleitorais. Ferro está tentando ser pragmático, mas suas palavras falharam ao demonstrar empatia com as reclamações de quem se sente lesado ou desiludido com o governo atual.

Desde a posse de Lula em janeiro de 2023, pedidos de impeachment têm sido protocolados por parlamentares da oposição e setores da sociedade civil. No entanto, especialistas apontam que, para um processo avançar, é necessária a convergência de fatores jurídicos e apoio político no Congresso, fator esse que se encontra em plena construção no congresso.

As recentes denúncias de irregularidades em programas do governo, acentuadas por investigações do TCU, reacenderam em Brasília, a pressão vinda de manifestações de base — em grande parte organizadas por alas conservadoras e bolsonaristas — e tem reavivado o debate. É nesse contexto que falas como a de Juliano Ferro acabam chamando atenção, especialmente por divergirem de boa parte do campo oposicionista no qual ele, presumivelmente, deveria estar inserido.

O ocorrido evidencia um desafio crescente para políticos municipais e estaduais em tempos de forte engajamento das redes sociais. Discursos que ecoam pelo país, como o apoio ao impeachment ou a crítica ao governo federal, são reproduzidos em seus territórios e frequentemente colocam gestores locais sob holofotes.

Juliano Ferro já havia protagonizado outras polêmicas em suas redes, mas desta vez lidou com um tema sensível e polarizante. Ainda que ele possa manter parte de seus eleitores ao adotar um discurso mais direto, a repercussão negativa, especialmente de líderes comunitários e empresários da região, pode custar caro em termos de apoio político.

O impacto no futuro político do prefeito

A polêmica causada por Juliano Ferro pode ser um indicador de como líderes regionais terão de adaptar suas narrativas para lidar com a intensa polarização nacional. O prefeito se vê diante de uma prova importante: manter sua popularidade intacta, mesmo em meio a um cenário político dividido.

Por ora, o prefeito não sinalizou recuo ou intenção de moderar o tom de suas declarações, e suas redes sociais continuam sendo palco de debates acalorados. Independentemente de sua posição ou do avanço do impeachment de Lula, uma lição fica clara para os políticos de todas as esferas: em tempos de redes sociais, cada palavra vira combustível para debates que extrapolam o nível local e atingem escala nacional.

Nota do jornalista: É crucial que líderes eleitos reconheçam o peso de seus discursos na formação do debate público e na percepção popular, especialmente em momentos delicados da política nacional. O episódio envolvendo Juliano Ferro é um claro exemplo de como declarações podem repercutir além do esperado, exigindo cautela, estratégia e responsabilidade por parte dos gestores públicos.