O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou aos holofotes esta semana após fazer duras críticas a prefeitos que não matriculam seus filhos em escolas públicas ou utilizam hospitais privados para tratamentos médicos. Durante um evento em Brasília, Lula apontou o descompasso entre a infraestrutura pública e o comportamento de gestores municipais que evitam os serviços que deveriam incentivar. “A gente quer que cada prefeito assuma a responsabilidade de fazer melhor do que pode fazer, a mesma educação que ele dá para o filho dele [...] Muitas vezes o filho dele não estuda na escola pública e vai numa particular”, disse o presidente. No entanto, sua declaração reabriu o debate sobre o próprio comportamento do chefe do Executivo em relação a esses temas, especialmente quando, recentemente, Lula optou por se tratar no renomado Hospital Sírio-Libanês, uma das instituições privadas mais exclusivas e caras do Brasil.
No evento, realizado no último dia 10 de fevereiro de 2025, Lula participou da entrega do Prêmio Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização, que homenageia municípios por avanços na educação infantil. Usando tom crítico, o presidente condenou prefeitos que não utilizam a infraestrutura educacional e de saúde que eles próprios deveriam fortalecer. Para ele, essa postura enfraquece a confiança da população nos serviços públicos e compromete a legitimidade das ações governamentais voltadas à classe trabalhadora.
No entanto, a represália do presidente ganhou significativa repercussão negativa quando foi confrontada com sua recente internação no Hospital Sírio-Libanês, em dezembro de 2024. Após uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, que resultou em um hematoma intracraniano, o presidente precisou passar por duas cirurgias de emergência. Ao invés de recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS), Lula optou pelo atendimento na rede privada — uma decisão que gerou críticas, principalmente da oposição e de parte da sociedade, que enxergaram o episódio como um exemplo de incoerência entre discurso e prática.
“Ele fala muito de serviços públicos, mas, quando precisa, prefere o conforto e a qualidade de um hospital de elite. Bem típica a frase: ‘faça o que eu digo, mas não o que eu faço’", ironizou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em uma de suas redes sociais.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é frequentemente exaltado por Lula em seus discursos como um dos grandes pilares da democracia brasileira e um exemplo de sistema público universal. Em entrevistas, o presidente já afirmou que o SUS é, "talvez, o melhor sistema de saúde pública para um país grande e diverso como o Brasil”. No entanto, embora a importância do SUS seja evidente e incontestável para atender milhões de brasileiros, o episódio do Sírio-Libanês destaca uma contradição que, aos olhos de muitos, enfraquece sua defesa fervorosa do sistema público.
Não é a primeira vez que Lula ou outros nomes da classe política brasileira são confrontados com questionamentos desse tipo. Durante sua trajetória, Lula recebeu atendimento médico no SUS em ocasiões anteriores, mas, ao longo de sua presidência, tornou-se recorrente a procura de hospitais privados para cuidados mais complexos — algo que também foi comum a outros ex-presidentes como Jair Bolsonaro, Michel Temer e Dilma Rousseff.
No caso de líderes com forte apelo popular, gestos simbólicos costumam pesar tanto quanto ações práticas. O simbolismo é um componente fundamental na construção da legitimidade dos governos. Quando um governante como Lula — que se apresenta como defensor das classes trabalhadoras — faz escolhas que destoam do discurso de valorização do serviço público, a credibilidade do discurso sofre abalos consideráveis.
A oposição, por sua vez, não perdeu tempo em explorar o episódio para criticar o atual governo, acusando-o de um afastamento crescente da realidade da população mais pobre. "Lula governa para os ricos, enquanto os pobres seguem sem remédios nos postos de saúde e com hospitais sem estrutura adequada. Quem tem R$ 20 milhões na conta pode escolher hospital particular. O povo brasileiro não tem essa opção", afirmou o presidenciável Sérgio Moro em entrevista recente.
O episódio do tratamento de Lula no Sírio-Libanês ilustra as dificuldades que líderes enfrentam ao tentar conciliar seus discursos com decisões práticas que, por vezes, contradizem as narrativas que defendem. Enquanto Lula acusa prefeitos de hipocrisia, ao não utilizarem escolas e hospitais públicos, sua própria atitude oferece munição aos críticos que cobram do presidente mais coerência em suas ações.
Mais do que um debate sobre o SUS ou hospitais privados, o caso ressalta a necessidade de lideranças políticas se alinharem ao que pregam, especialmente em tempos de crise, onde a confiança da população nos seus governantes é ainda mais essencial. Afinal, discursos, por mais bem-intencionados que sejam, só têm eficácia quando respaldados por exemplos claros de comprometimento.
Episódios como este mostram que o desafio não é apenas governar — é também liderar pelo exemplo.
Mín. 21° Máx. 31°
Mín. 20° Máx. 31°
ChuvaMín. 20° Máx. 26°
Chuvas esparsas