Nos corredores de supermercados da região Sul e Sudeste do Brasil, uma nova espécie de produto começa a traçar raízes invisíveis, ameaçando diretamente a cadeia produtiva e a confiança dos consumidores.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o aumento considerável no custo dos insumos agrícolas, além do impacto da mão de obra e energia, tem feito o preço do café genuíno disparar. Com isso, o “café fake”, produzido de maneira clandestina, surge como uma alternativa mais barata, aproveitando o crescimento dos preços da bebida. Esse produto é uma mistura que, em vez de utilizar a semente do café, é feito com polpa, cascas, folhas e galhos.
Pavel Cardoso, presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), disse em um vídeo nas redes sociais que o “café fake” é uma fraude e que esse produto está devidamente enquadrado como fora dos preceitos do código do café, que certifica a qualidade do produto no Brasil.
O “café fake” é comercializado em embalagens semelhantes às do café tradicional, tanto em almofadas quanto a vácuo, com o intuito de imitar marcas conhecidas. A prática é um golpe direto ao consumidor, que pode ser enganado por um produto que não oferece os mesmos benefícios e qualidades do café genuíno.
De acordo com especialistas do setor, a fraude representa cerca de 10% das vendas de café no estado de São Paulo e 15% no Paraná. Esses percentuais não são apenas números frios; representam uma séria ameaça a uma das indústrias mais importantes do agronegócio brasileiro.
Ao longo dos últimos anos, o Brasil se consolidou como o maior produtor e exportador mundial de café, com um impacto econômico significativo em diversas regiões. A quebra da confiança no produto, por sua vez, pode ter consequências devastadoras para produtores genuínos que já enfrentam desafios suficientes no mercado internacional.
Agências fiscalizadoras, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), intensificaram suas ações nos locais considerados críticos para esse problema. No entanto, o esforço esbarra na capacidade limitada de pessoal e infraestrutura. Existe uma necessidade urgente de investimentos para equipar melhor os laboratórios e expandir as operações de fiscalização.
Nesse cenário, os órgãos reguladores também enfrentam o desafio de atualizar as leis relacionadas a fraudes alimentícias, que muitas vezes se provam obsoletas frente às táticas cada vez mais sofisticadas dos fraudadores.
Do ponto de vista dos consumidores, a frustração é palpável. Muitos relatam sentir a diferença nos sabores e aromas, mas acabam por não saber as motivações por trás de tais alterações. Este ambiente de desconfiança pode levar a um recuo nas compras, prejudicando, em última análise, os cafeicultores honestos que entregam o produto conforme prometido.
Para a indústria, o impacto é duplo. Empresas enfrentam o desgaste na imagem de suas marcas, além de perdas financeiras substanciais geradas pelo remanejamento dos produtos. A busca por soluções eficazes para proteger a integridade do café genuíno simultaneamente se apresenta como uma oportunidade e um desafio.
A solução para esta crise requer uma abordagem integrada que combine a ação governamental, a conscientização do consumidor e o investimento por parte de indústrias de café em tecnologias de rastreamento e autenticação, tal como a utilização de blockchain para a rastreabilidade da cadeia produtiva.
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